Dia 340 - Do que esquecemos ao crescer?

Dizem que quando nascemos não nos lembramos...
De quem éramos, do que fizemos em outra vida... Esse é um grande presente!
Chegar nu, leve e cru... Na leveza que, infelizmente, com o passar dos anos iremos perder.
E então, ficaremos apertados dentro de nós mesmos e passaremos toda a vida tentando ser o que perdemos, leves.
Felizes passaremos, por momentos que lembraremos toda a vida.
Com pessoas cruzaremos e levaremos conosco o que com elas partilhamos.
Mas o ‘peso do corpo’ vai aumentar, os pensamentos se tornarão mais densos e desejaremos...
Ser leves.
Por causa disso, sentiremos cansaço e uma necessidade imensa de apenas sentar, calado, num degrau de escada qualquer e ver passar... Uma pipa, uma bolha de sabão, uma criança solta sorrindo com o coração...
Sentiremos inveja e tentaremos a todo custo lembrar da nossa época, quando sorríamos com o coração. Sem a máscara que nos protege de nós mesmos.
Sentiremos necessidade de sentar ao lado de nossos avós e ver os olhos deles brilharem, por contarem como eram quando crianças, o que faziam, onde corriam, como era difícil mas também feliz. Daremos a eles o que nós queremos, lembranças de quando éramos leves.
No tempo em que não conduzíamos a pipa, mas estávamos lá no céu, sobre ela, pinoteando, gargalhando ao cortar a pipa do colega, dando um ‘tchau’ aos pássaros. Quando não tínhamos inveja porque, simplesmente, éramos.
Sentiremos necessidade de nos calar... E incomodados com nossos pensamentos, tentaremos sufoca-los para que nos deixem em paz um minuto e possamos ir onde quisermos...
Tudo tentado ser o que éramos... Crianças.
E num dia, sentado diante de seu filho numa sala qualquer, vai contemplar o sol beijando seu rosto, ele fechando os olhinhos para se proteger, girando uma cadeira, sorrindo pela pequena descoberta. Ele cairá e levantará, ainda não sabe o que é perder, se machucar, o medo não lhe limita... Ele vai sorrir sem se preocupar se está assim ou assado, feliz ou zangado, apenas fará. E a cadeira continuará a girar, assim como a vida.
Você, neste instante, se sentirá sem importância e leve como antes.
Dizem que quando nascemos não nos lembramos...
Mas a vida, essa mesma vida, que tanto reclamamos, generosa e viva, vai nos ensinar e nos lembrar muitas e muitas vezes o que somos.
Basta parar de procurar...
E apenas observar...
E lá estará...
Eu, você, ele e todos os seres humanos...
Girando a cadeira...
Caindo e levantando...
Sorrindo ou chorando...
Sob o sol que nos ilumina...
Num lugar qualquer...
Num dia comum...
Com sorte, sob o olhar de quem nos ama...
Sorrindo feliz...
Com a única descoberta que de fato importa...
Viver, seja essa uma vida ‘reta’ ou ‘torta’, porque o formato esse, de fato, não importa.


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