Dia 151 - Dia dos Pais - 10/08/08

Em 2001 ele nos disse adeus, deixou para trás nove filhos, dos quais sou a terceira mais velha, sou fruto de seu segundo casamento, que durou cerca de 11 anos, dentre as muitas lembranças que carrego, algumas até já registrei em outras postagens, trago comigo seu sorriso e sua generosidade.

Seu nome era José, um homem comum, mecânico, apaixonado por carros, mulheres, crianças...cristão, lembro-me de aos quatro anos vê-lo ajoelhado de cabeça baixa, mãos postas, num sinal de respeito e reverência, em seu momento de oração, lembro de me ajoelhar a sua frente, era tão pequena que minha presença, tão junto a seu corpo, não lhe tirava a atenção.

Lembro de ir com ele em muitos domingos em cachoeiras, onde passávamos todo o dia, lembro de como dirigia seu carro, sempre veloz, lembro do timbre da sua voz, da bota que calçava quase sempre, das camisas dobradas, das costeletas grandes e cabelos sempre brilhantes, vaidoso, homem charmoso, não tinha beleza exuberante, mas tinha porte elegante, chamava a atenção e me encantava.

Suas músicas me incomodavam, reclamava todos os domingos, hoje daria tudo para ouví-las novamente e tê-lo em meus domingos. E quando as ouço meu peito parece que vai explodir de saudade.

Certa vez, atravessei a rua sem atenção, ainda era bem menina, mas achava-me adulta, sempre fui assim, precoce, e um carro quase me atropelou, vi e senti o desespero do meu pai quando me abraçou, chamou minha atenção e me fez jurar que nunca, nunca mais iria ser desatenta, pegava meu rosto pequeno para que tivesse certeza de que não iria me perder, eu devia ter uns oito anos, não sei ao certo.

Muitas vezes viajávamos para o interior, ele sempre fazia questão de levar presentes para as crianças, mantimentos para os parentes mais necessitados, consigo também levava alegria, piadas todos os dias, música alta e boa companhia, assim ele plantava o amor em quem conhecia, a seu modo cativava e também afastava, mas nunca ouvi alguém dizer que ele não tinha um coração gigante.

Lembro de sua barriga, redonda, fofa, "meu travesseiro" - eu dizia, era repousar em segurança, sempre, mesmo depois de adulta, todas as vezes que nela deitava, voltava a ser criança.

Um pouco antes de nos deixar, meu padrinho, o convidou para almoçar em sua casa e depois de muitos anos separados, eu adulta, tive ao meu lado as duas pessoas que mais amo neste mundo, meu pai e minha mãe, momento este que nunca esquecerei.
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Pai,

Estive ao seu lado todo momento, mesmo quando achavas que não estava, sentia não poder mudar as nossas vidas para que nunca tivéssemos nos separado, mas o laço que nos unia era inquebrável.
Hoje seus erros não fazem sentido, não importa, seu legado foi bom, foi generoso, foi amável...não fui sua menina pra sempre, mas sempre serei sua filha, desculpe se te magoei de alguma maneira.
Pai, lembra daquela foto de nós dois na praia, foi um presente meu pra você, e saber que a guardou até seu último dia me trouxe uma grande alegria, hoje trago-a comigo em meu peito, gravada de forma que sempre serei aquela criança em seus braços.
Nos seus braços eu não tenho medo...
Seu sorriso me ensinou o que é alegria, sua paixão me motiva todos os dias, tenho orgulho de ser sua filha...
Queria saber se está bem, mas não tenho como, queria ter tido a coragem de lhe dizer essas coisas quando ainda estava vivo, mas errei ao hesitar, no entanto, tudo isso estava comigo, me fez gente, crescer, fazer por merecer o amor que cativo, não disse o que aprendi, mas eu vivo...como se esta cartilha que escreveste nunca fosse fechada...e eu a leio...todos os dias.
Eu te amo!

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Domingo, dia 10/08/08, é Dia dos Pais, eu não tenho o meu aqui para lhe abraçar e dizer o quanto é importante para mim, mas muitos ainda tem seus pais consigo, outros, como eu, guardam o amor que sentem e rezam a Deus para que seu ente querido tenha encontrado o conforto e o abrigo necessários onde estiverem.

Sou muito observadora e não é difícil notar que muitos filhos não valorizam os pais que tem, não valorizam a vida concebida, o amor e os cuidados dispensados enquanto ainda não podiam decidir por si, não valorizam o suor e o trabalho aos quais seus pais se submeteram para os sustentar, para dar-lhes uma vida com o máximo de conforto e dignidade possível, não valorizam os pequenos gestos, a palavra de compreensão, as repreensões que nos ensinam limites, onde começa o direito do outro...são tantos os ensinamentos, os cuidados, os gestos...um amor incondicional, que muitos de nós entenderão somente quando forem pais e mães.

Pois digo que esta data, Dia dos Pais, existe todos os anos, mas não sabemos até quando teremos a oportunidade de dar aquele abraço bem aperto em nosso pai, em nossa mãe, para dizer-lhes o quanto são importantes, o quanto somos gratos e o quanto os amamos.

Nenhuma data, seja ela um dia de comemoração ou um dia comum, é dispensável. Todos os dias, ou melhor, o AGORA é o único momento que podemos ter certeza de que existe. Quando meu pai faleceu, eu fiquei a noite toda ao seu lado, e nada podia fazer para mudar aquele momento, ele não ia me sorrir, contar piadas, conversar, me abraçar, eu não poderia voltar no tempo e ter com ele nos domingos, nos dias que estava ocupada demais para o visitar...não sentiria o calor de suas mãos, não poderia dizer todas as palavras que engoli, umas por orgulho, outras por raiva, outras por acreditar que sempre iria existir um amanhã...outras por estar ocupada demais com 'minha vida'...a vida que ele também ajudou a conceber.

Se você tem seu pai, sua mãe ao alcance das suas mãos...não use nenhuma desculpa, apenas diga o que vai em seu coração...um obrigado, um abraço ou mesmo um aperto de mão, não importa, só não perca a chance...porque um dia não haverá um amanhã...

Este texto é dedicado ao meu pai e a todos os pais, que como o meu, fizeram e fazem o que podem por seus filhos, saibam que de tudo que fazemos na vida somente as coisas que são feitas com, e por, amor é que realmente valem a pena.

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Feliz Dia dos Pais papai!!! Geovanna

Comentários

Elvira Carvalho disse…
Minha querida, não foi por acaso que vim aqui hoje. Sei, porque acompanhei muitos dos seus desabafos o que seu pai representou para si, a rebeldia com que o encarou em determinada época, e o que pensa hoje como mulher madura. Assim pensei, que hoje seriua um dia triste para si, e aqui estou a oferecer o meu ombro e o meu abraço.
Com muito carinho amiga, um abraço apertado.
lagartinha disse…
Geo
Foi das homenagens mais bonitas que li até hoje.
Deve doer muito, mas as recordações também têm a função de acalmar a alma.
Um grande beijo
LM disse…
e amar com a alma acalmada é mesmo uma paixao sublime. lindo post e mais imaginar os bons momentos e ledicias que conta. beijos.